sábado, 4 de dezembro de 2010

PAIS AUSENTES, FILHOS DELINQUENTES

A escola está vazia, pois os alunos estão de férias. Após longos dias de reformas e manutenção, a escola está impecável. Limpeza, organização e gestão... Tudo brilha e cheira a novo. A biblioteca foi reformulada, atualizada e precisamente decorada com temas literários. A sala de informática também sofreu mudanças, para melhor. Os computadores de tela plana são mais modernos que os das Lan Houses da região. Duas salas foram equipadas com data show de última geração, pronto para serem usadas pelos alunos e professores.
Aparentemente o recurso que sai de nossos bolsos está sendo empregado quase que de forma correta em novos prédios escolares, manutenção de escolas, compra de livros, material didático, merenda escolar de qualidade, formação de professores capacitados etc e tal. Tudo isso para garantir a qualidade de ensino dos alunos, para que o maior estado brasileiro possa se tornar também o mais qualificado em diversos aspectos incluindo a educação.
Tudo brilha e cheira a novo na escola, boa parte dos professores foram avaliados, capacitados e estão em constante formação. A escola está melhor. O governo tem investido massivamente. Só têm um probleminha que atrapalha o bom andamento da escola, os alunos.
Os alunos odeiam a escola, odeiam os professores e certamente vale a recíproca. A escola seria o ambiente perfeito se não existissem os alunos. Semelhante as minhas habilidades futebolísticas. Para aqueles que não sabem, eu sou um craque no futebol, faço uma bela marcação, tenho um ótimo posicionamento dentro das quatro linhas. Meu condicionamento físico me permite correr tranquilamente os noventa minutos de uma partida. Só tem um probleminha, a bola. A bola me atrapalha, não tenho o domínio ideal e tão pouco sou um bom chutador. É possível jogar futebol sem bola? Vocês conhecem alguma escola no qual inexistam alunos?
Por vários motivos os alunos não gostam da escola, e há quem diga que a escola é muito chata. Mas por que a escola é chata? Por que os alunos odeiam a escola? Por que os nossos alunos perderam o interesse pela aprendizagem? Segundo o educador Rubem Alves:
"A escola é uma fábrica onde todos os alunos são submetidos a uma linha de montagem para que todos saiam absolutamente iguais e sem personalidade. Transformando-se em depósitos de conhecimentos e habilidades, tornando-se produtos apenas. Fica evidente que elas gostam da escola por causa da sociabilidade, dos amiguinhos, por causa do recreio. Mas elas não estão interessadas naquilo que se ensina na escola. Você acha que um adolescente, vivendo na periferia, pode ter interesse em dígrafos? Não tem interesse nenhum. Existe outra expressão terrível: grade curricular. Já brinquei que deve ter sido cunhada por um carcereiro."
Talvez isto justifique, parcialmente, o desinteresse pela escola.
Prova de que os alunos odeiam a escola é que bastou soar o sinal da Escola estadual Professora Mirna Loide Correia Ferle, no Bairro São João, em Mauá no último dia de aula, para os alunos se livrarem dos livros e cadernos que os acompanharam durante todo o ano letivo. A Avenida Barão de Mauá, onde o colégio está instalado, ficou tomada por folhas de papel e pedaços do material didático entregue aos estudantes pelo governo do Estado. Cenas de jovens atirando papel picado no chão e arremessando livros na direção de carros e colegas foram flagradas pelo jornal local, ontem, nos horários da saída de outras escolas da região.
"Acabou o ano, malandro. Agora só vai ter aula em fevereiro. Não quero mais saber de escola e nem de livro", disse um estudante de 14 anos, que se identificou como Alex, explicando porque atirou para o alto, minutos antes, um caderno de espiral.
“Só Jesus! Não consegui tirar o carro do estacionamento da escola, foi preciso chamar os garis para retirar as apostilas do portão da escola” disse o professor e pastor evangélico Gerald Josse da periferia de São Paulo.


Este fato não é um caso isolado. Em várias regiões do Estado de São Paulo acontece este tipo de vandalismo. Na realidade este acontecimento pouco me impressiona, visto que constantemente vejo algum aluno mandando o professor tomar no centro da circunferência anal. Coitadinhos dos aluninhos. São carentes, indefesos. Os professores são culpados, pois não são preparados para lidar com os conflitos em sala de aula, como afirmam os gurus da educação.
Estas apostilas jogadas no lixo refletem a qualidade de ensino nas escolas públicas e a maneira como são tratados os professores da rede pública de São Paulo. Estas mesmas apostilas já foram alvo de polêmicas em anos anteriores, o ex-governador José Serra determinou o recolhimento de 500 mil apostilas de geografia distribuídas com erros de informação para alunos de sexta série do ensino fundamental de todo o Estado de São Paulo. No caderno do aluno e do professor, o Paraguai aparece duas vezes no mapa da América do Sul: em posição invertida com o Uruguai e dentro do território da Bolívia. Porém, isso não é justificativa para tanta indisciplina. Fica evidente que não é somente o Estado o único culpado pelo desmazelo e falta de educação destes delinqüentes. Segundo a Constituição Federal de 1988, artigo 205. “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”
O aluno traz para a aula os valores e atitudes que foi aprendendo até aquele momento em suas casas. A indisciplina certamente é um reflexo da ausência de condições para uma adequada educação familiar.
Nesse mundo capitalista em que vivemos restam pouco tempo para os pais educarem seus filhos. Porém, nada disso serve como desculpa para não exercermos como deveríamos nosso papel de pais. Já que o Estatuto da Criança e do Adolescente protege o menor delinqüente talvez a solução seja punir os pais ausentes.