terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Zina e o “Idiota” de Dostoiévski

Certa noite de um dia qualquer estava com minha esposa vendo TV quando ao passar por um determinado canal percebemos que se tratava de uma festa onde estavam presentes, segundo minha esposa, vários "artistas".

__ Vamos ver os artistas! Pensei comigo mesmo.

Deborah Secco, Ana Hickmann, Christiane Torloni, Ticiane Pinheiro, Dado Dolabella, Ivete Sangalo, Tiririca, Didi e “Zina” o mais talentoso de todos que citei.

Naquele momento comecei a refletir. Qual seria a definição de artista? Numa definição simplista, artista é aquele que faz arte.

Então qual seria a definição de arte? Sabemos que o conceito de arte é extremamente subjetivo e varia de acordo com a cultura a ser analisada, período histórico ou até mesmo indivíduo em questão.

Partindo deste pressuposto, será que o Dado Dolabella se encaixaria em uma nova definição artística? Estaríamos vivenciando um novo período histórico? Seria o “Zina” um novo personagem a ser analisado e comparado com o “Idiota” de Fiódor Dostoiévski?

O “idiota” de Dostoiévski se tratava de um príncipe que morou na Suíça por vários anos para tratar de sua idiotia. Quando precisou voltar à Rússia para reclamar uma herança, estando praticamente curado, conhece uma parenta distante e afeiçoa-se a ela. Ao longo do romance, o príncipe mostrará ser honesto, bondoso, romântico, mas terá problemas com isso, pois, os outros acham que isso é sintoma de idiotia.

Zina, o nosso portador de idiotia[1], se trata de um corinthiano com olhar fixo e água oxigenada no cabelo curto que se transformou no verdadeiro fenômeno corintiano do ano de 2009. A curta fala virou vinheta do programa Pânico na TV em meio a reportagens de todos os tipos.

Devidamente instruído por aproveitadores de plantão, Marcos da Silva Heredia, o nosso idiota entrou na Justiça contra a Rede TV com pedido de indenização por danos morais. Em meio aos documentos, Zina anexou um laudo que diz ser “portador de transtorno mental grave”. Após um mês, Zina estreou no palco do Pânico na TV. Durante longa apresentação, foi saudado como “o poeta de uma palavra só”. No dia seguinte, o próprio Zina pediu a extinção do processo contra a Rede TV.

Com efeito, a TV brasileira considera que a população brasileira tenha “um certo grau de idiotia”, haja vista que os programas atuais são direcionados a idiotas . Sendo assim, com Zina na TV todos saem ganhando. O Zina ganha notoriedade e dinheiro. A Rede TV ultrapassa temporariamente os “índices de audiência” no horário nobre.

Se todos ganham, quem perde é a “arte”, se considerarmos “portador de idiotia” artista, é lógico.


[1] Grau mais grave de atraso mental (ologofrenia), caracterizado por um quociente de inteligência inferior a 20 e uma idade mental que não ultrapassa os três anos. A pessoa que sofre de idiotia é incapaz de falar ou dispõe apenas de uma linguagem muito rudimentar.