domingo, 14 de julho de 2013

FUNK OSTENTAÇÃO

Diferente do “funk carioca” com suas letras que fazem apologia a temas como sexo, drogas e violência, uma nova vertente (não menos pobre) do gênero, esta criada aqui em São Paulo. Com postura menos agressiva e passando a valorizar itens de consumo, principalmente artigos de luxo como carros importados e roupas de grife, nossa juventude “semi-analfabeta” ou “desprovida de inteligência” infesta as ruas da periferia da cidade com sua poluição sonora e de gosto duvidoso.






Preconceito?  Sem dúvida.
Ostentação em país pobre é no mínimo burrice e alienação, palavras que estes jovens funkeiros desconhecem, pois são alunos pífios que ajudam a corroborar com os baixos índices nas avaliações de língua portuguesa e matemática do ensino básico.Em parte não são culpados pela pobreza intelectual.


Somente uma juventude iletrada e não dada a “boas leituras” seria capaz apreciar a rima “bolsa Louis Vuitton com batom”, como na canção As Minas do Kit, do MC Nego Blue, um dos expoentes do “funk da ostentação”.  Segundo Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto de pesquisas Data Popular, o perfil consumista da nova vertente possuiu ligação estreita com o progresso econômico verificado no Brasil ao longo da última década. “Esse estilo musical celebra a ascensão social da classe C”, teoriza Renato Meirelles. Segundo a minha opinião, este estilo é fruto de uma Juventude estulta, estúpida, ignorante, imbecil, inepta etc.







O que leva um idiota fazer propaganda de uma marca sem obter retorno financeiro?
Algumas marcas já ameaçaram processar os músicos, pois alguns empresários não querem ligar suas grifes à classe C. Estudos mostram que 90 % dos donos de grandes marcas do Brasil querem vender para o público A. Os Idiotas fazem Merchandising contra a vontade dos donos da marca.



Citações ou Pérolas compostas pelos “novos poetas” da Música Popular Brasileira. Poderia ser considerado um novo conceito filosófico da Pós Modernidade.


“Vida é ter um Hyundai e uma Hornet 10 mil pra gastar,     Rolex e Juliet.”  MC  Danado no funk


“Olha como é que nos tá andando tipo patrão No bolso é só nota de cem E na conta mais de milhão Andando de carro importado” MC Buru





quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Esoterismo quântico



Folha de São Paulo, domingo, 12 de julho de 2009

Novo livro do cientista Victor Stenger ataca os gurus que mistificam conceitos
da física para dar verniz de ciência a suas crenças

PABLO NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Tanto os fãs ardorosos dos documentários "Quem somos nós" e "O Segredo" quanto os espectadores que consideraram esses filmes um desfile de bobagens requentadas do movimento Nova Era podem tirar algum proveito do novo livro do físico americano Victor Stenger. "Quantum Gods" (Deuses Quânticos) se destina
justamente a atacar a crença de que as modernas teorias cientificas são
perfeitamente compatíveis com toda forma de prática esotérica.
O livro é uma resposta direta a ambos documentários, nos quais cientistas,
médicos, religiosos e gurus de auto-ajuda recorrem a conceitos da mecânico-quântica
quântica -ramo da física que explica o comportamento da matéria a níveis muito
pequenos- e de outras ciências para abordar temas místicos como poder do
pensamento, carma, vida após a morte etc.
Desde o fim dos anos 1980, Stenger tem militado na corrente neoateísta que tem
no biólogo Richard Dawkins e no filósofo Daniel Dennett suas faces mais
conhecidas. Seu novo livro começa fazendo um breve e irônico levantamento das
ideias defendidas pela nova onda de gurus quânticos.
Stenger dá destaque a Amit Goswami, físico indiano bastante popular no Brasil,
tendo sido entrevistado duas vezes no programa Roda Viva, da TV Cultura. Mas até
o Dalai Lama é citado, devido a seu livro "O Universo num Só Átomo". O líder
tibetano, porém, é abordado de forma respeitosa.
Já o fundador da meditação transcendental, o físico e guru indiano Maharishi Yogi (1917-2008) recebe chumbo pesado. David Bohm e Fritjof Capra, cientistas que não aparecem nos filmes, mas que são pioneiros do encontro da Mecânica Quântica com
a Nova Era, também não escapam ilesos.
Divulgador experiente, Stenger inclui no livro seções que formam uma curta mas substanciosa história da ciência. Isso permite a um leigo tomar pé do debate
sobre problemas teóricos complexos, mas deixa passar a chance de desmontar
detalhadamente afirmações supostamente científicas com as quais o espectador se
depara em "Quem somos nós".
Em vez de tentar negar, por exemplo, a afirmação de Goswami de que a consciência é o fundamento do Universo, ele prefere repassar a história da criação da física de partículas. Em vez de contestar os experimentos de Masaru Emoto, que afirma
que as moléculas de água podem ser alteradas pela força do pensamento, ele
descreve os fracassos obtidos em testes de parapsicologia.
É como se Stenger acreditasse que uma apresentação criteriosa de conceitos
complicados, como o emaranhamento quântico, será o suficiente para que os
leitores possam, por si só, perceber os pontos em que Capra, Goswami e companhia
estão "forçando a barra".

Em benefício da dúvida
Só que o mais provável é que o leitor leigo se sinta incapaz de chegar a uma
conclusão por conta própria. Neste caso, provavelmente a leitura apenas terá
colaborado para aumentar suas dúvidas. Porém, isso, por si só, já pode ser algo
positivo. Afinal, uma das maiores objeções que se pode fazer a "Quem somos nós"
é que o filme não avisa aos espectadores que as posições ali apresentadas são,
no mínimo dos mínimos, controversas, e que não são endossadas pela imensa
maioria da comunidade cientifica.

Stenger oferece aos leitores a visão acadêmica destes mesmos temas, numa
linguagem acessível. Saber que existe uma outra visão (na verdade várias) da
mecânica quântica pode ser uma grande novidade para muitos dos fãs de "Quem
somos nós", que fizeram dele o quinto documentário mais lucrativo da história
dos EUA.
O livro analisa também as ideias de outros grupos que, volta e meia, recorrem à
mecânica quântica para sustentar suas ideias. Ilya Prigogine, prêmio Nobel de
química de 1977 e herói da corrente acadêmica conhecida como
transdiciplinaridade, é diretamente contestado. Prigogine afirma que os
processos termodinâmicos não podem ser abordados através do tradicional
reducionismo metodológico tão caro à ciência moderna pois, neste caso, esses
processos não seriam reversíveis no tempo.
Stengers afirma que, por princípio, todos os processos físicos são reversíveis
temporalmente, e que Prigogine "está completamente errado, mesmo tendo ganho um
prêmio Nobel". Também sobram críticas para a parapsicologia e para os teólogos
que investigam o mundo microscópico em busca de sinais da ação do Deus cristão,
ou de algo próximo a ele.

Sobrecarga

Ao mirar em tantos objetivos diferentes, o autor sofre do ônus de ter poucas
páginas para devassar temas muito variados e complexos. Sem o espaço necessário
para uma exposição mais adequada, sua argumentação soa, em vários momentos,
concisa demais. Mas há um motivo para isso: em livros anteriores ele já investiu
diretamente contra criacionistas, adeptos do Design Inteligente, da
parapsicologia etc. Aqui, em certos momentos onde seria necessário um maior
aprofundamento, ele se limita a se referir a sua própria obra.
No final do livro, Stenger argumenta diretamente contra a existência de qualquer
tipo de divindade. Sua visão do fenômeno religioso lembra um pouco a de Dawkins,
restringindo-se a análise de certos estereótipos. Nada disso, porém, chega a
comprometer a consistência do livro. Stenger tem o conhecimento científico e a
expertise literária necessários para apresentar um bom contraponto à febre de
física Nova Era que continua circulando pelo planeta, Brasil inclusive.

Pseudociência


Pseudociência

O conhecimento não científico é considerado, em geral, como conhecimento pseudocientífico. Apesar disso, não é clara a distinção entre ciência e pseudociência, pois vários poderiam ser os critérios de cientificidade a serem adotados entre as diversas áreas de conhecimento. No entanto, aqui a questão problemática deste texto não é estabelecer os critérios únicos, definitivos e abrangentes que permitiriam a demarcação entre o que é ciência e “não ciência”, e sim, salientar a importância da compreensão da atitude crítica das ciências, reforçadas pelo método científico, em  especial das ciências naturais, em confronto com as pseudociências.
Desta forma, a concepção aqui utilizada de pseudociência é aquela que mais se aproxima da de Bunge (1989, p.68) “uma pseudociência (ou pseudotecnologia) é uma disciplina que se faz passar por ciência (ou por tecnologia) sem sê-lo”. Ou seja, as pseudociências, seriam os conhecimentos que não admitem as críticas da ciência, ou que não reconhecem a ciência e seu método como a única forma de se obter conhecimento seguro e confiável, mas que no entanto, utilizam-se de teorias e/ou de técnicas científicas, ou supostamente científicas, para tentar validar suas conclusões ou promover uma falsa sensação de rigor científico. Entre outras disciplinas e práticas pseudocientíficas é possível citar: a astrologia, a quiromancia, o tarot, a numerologia, as medicinas alternativas (homeopatia, acupuntura, terapia do toque, cromoterapia, aromaterapia, etc.), a parapsicologia, a ufologia, a grafologia, Feng Shui, cristais, fotografia Kirlian, etc.






Segundo Armentia (2002, p.1):
... nós cidadãos chegamos, em geral, a desfrutar dos dons da ciência mas
sem chegar a compreendê-los nem a analisá-los. [...] Quando por uma razão
ou outra se furta ou evita o debate, a livre crítica que está no fundo do
método científico, fica a liturgia. E as pseudociências aproveitam este abismo
entre a ciência e a sociedade para aparecer como ciências quando realmente
não o são.


Segundo Paulo Kurtz (apud ARMENTIA, 2002, p.2) as pseudociências são
matérias que:
a) não utilizam métodos experimentais rigorosos em suas investigações;
b) carecem de uma armação conceitual contrastável;
c) Afirmam ter alcançado resultados positivos, embora suas provas sejam
altamente questionáveis, e suas generalizações não tenham sido
corroboradas por investigadores imparciais

Outras características podem ser associadas a algumas pseudociências e a quem as pratica, como por exemplo: a recusa de abandonar a teoria face a evidências claras que a refutem; o uso de hipóteses ad hoc para tentar eliminar evidências contrárias; o uso seletivo de dados, utilizando os favoráveis e desconsiderando os desfavoráveis; a despreocupação com a ausência de provas; o uso de mito ou apoio na crença na verdade pela antiguidade, ou seja, de que são teorias verdadeiras por serem teorias antigas, ou milenares.


Segundo Sagan (1996, p.36):
A ciência prospera com seus erros, eliminando-os um a um. [...] As hipóteses
são formuladas de modo a poderem ser refutadas. [...] A pseudociência é
exatamente o oposto. As hipóteses são formuladas de modo a ser tornar
invulneráveis a qualquer experimento que ofereça uma perspectiva de
refutação, para que em princípio não possam ser invalidadas. Os
profissionais são defensivos e cautelosos. Faz-se oposição ao escrutínio
cético. Quando a hipótese não consegue entusiasmar os cientistas, deduz-se
que há conspiração para eliminá-la

Uma das formas de tornar uma hipótese irrefutável é formulá-la de forma que a partir dela somente seja possível chegar a previsões vagas. As previsões de videntes e profecias constituem exemplos desta prática.
É possível constatar que muitas práticas pseudocientíficas sejam razoavelmente inofensivas às pessoas. Por exemplo, um vidente prevê que uma
pessoa irá encontrar sua “alma gêmea” (parceiro ou parceira ideal) num determinado mês, o que pode ser inofensivo à pessoa que acreditou nesta previsão. Se ela não encontrar nenhum parceiro ideal naquele mês, o vidente poderá afirmar que, na verdade, ela o encontrou em algum lugar, mas não percebeu, ou não teve a iniciativa de conversar, ou algum “motivo” muito especial pode ter causado o desencontro. Se ela encontrou alguém e aconteceu de iniciarem um relacionamento, ainda o resultado pode ser provisoriamente considerado inofensivo, o problema para
esta pessoa somente estaria no fato de que ela passaria a acreditar mais em previsões, especialmente daquele vidente. Esta pessoa, no entanto, pode sofrer consequências indesejáveis devido a sua credulidade, se por exemplo, ela realmente acreditar que encontrou sua “alma gêmea”, e a partir daí forçar um relacionamento, abandonar projetos pessoais, ou levar uma vida de frustração junto a alguém que ela acreditou ser a pessoa certa, estimulada talvez possivelmente por um charlatão.
Ter um pouco de senso crítico, investir um mínimo em ceticismo, é uma atitude racional, que não significa necessariamente abandonar todas as crenças pessoais, mas trata-se de um pequeno investimento pessoal contra o irracional, contra aquelas alegações pseudocientíficas que podem ser algumas vezes inócuas, mas outras vezes realmente prejudiciais não somente à pessoa lesada, mas à comunidade como um todo. Trata-se, portanto, antes de tudo, de armar-se contra truques, fraudes e charlatanismos.
Mitos Pseudocientíficos

Estes temas abaixo não tem Respaldo Científico. Foram testados e reprovados pelo método científico.



Exemplos de mitos das pseudociências:
Sequestros por alienígenas,
Aromaterapia,
Astrologia,
Auras,
Florais de Bach,
Triangulo das Bermudas,
Pé grande,
Bioritmo,
Comunicação com espíritos,
Quiropratica,
Clarividência,
Fusão a frio,
Criacionismo,
Círculos agrícolas,
Poderes dos cristais,
Radiestesia,
Ectoplasma,
Sessões Espíritas,

Teoria dos miasmas
Horóscopos,
Iridologia,
Levitação,Monstro do lago Ness,
Aparelhos de cura por magnetismo,
Nova Era,
Nostradamus,
Numerologia,
Quiromancia,
Terapia de vidas passadas,
Poderes dos pêndulos,
Máquinas de movimento-perpétuo,
Frenologia,
Poltergeist,
Profecias,
Poderes psíquicos,
Cirurgias espirituais,Poderes das Pirâmides,
Racismo e teorias raciais,
Previsões de fim do mundo,
Percepção Extra-Sensorial,
Extraterrestres,
Fadas,
Discos voadores,
Previsão do futuro,
Fantasmas,
Espiritualismo,
Combustão humana espontânea,
Dobramento de colheres,
Cartas de Tarô,
Telecinese,
Telepatia,
Meditação Transcendental,
Allan Kardec,
Uri Geller,
Óvnis,
etc.

Por:  Carl Sagan




domingo, 15 de janeiro de 2012

O JABUTI E O COELHO



Entre Jabutis e Coelhos Literários

    Aqui, não se trata da clássica fábula do coelho desafiando o jabuti para uma corrida, onde o menosprezo resulta em derrota. Não, neste cenário, jabuti e coelho representam figuras distintas: o esotérico Paulo Coelho e o prestigiado Prêmio Jabuti, um ícone literário brasileiro. Uma relação que, recentemente, se viu permeada de controvérsias.

    O Prêmio Jabuti, erguido em 1957, tornou-se a mais cobiçada honraria da literatura nacional. No entanto, este ano, as águas tumultuaram. A editora Record ameaçou abandonar a disputa, revelando lacunas no regulamento. Autores premiados clamaram por regras mais claras, especialmente diante da escolha de "Leite Derramado," de Chico Buarque, para Livro do Ano, desbancando "Se Eu Fechar os Olhos Agora," de Edney Silvestre.

    E onde entra o Coelho esotérico nessa trama literária? Paulo Coelho, sem cerimônias, rotulou o Jabuti como "irrelevante" e disparou críticas: "anda devagar, prestígio só dentro do casco (intelectualóides), nunca vendeu livros." Uma posição questionável, pois, apesar da polêmica, o Jabuti ostenta o título de prêmio literário mais prestigiado do país. Alguns até ousam dizer que o irrelevante é a obra de Paulo Coelho.

    O mago literário, traduzido para 51 idiomas, detentor do recorde de autor brasileiro mais lido, continua a polarizar opiniões. Acadêmicos refutam seus escritos de autoajuda, negando-lhes dignidade estética. Não é necessário ser crítico literário para perceber a "pobreza literária" em suas obras, como aponta Eloésio Paulo em "Os 10 Pecados de Paulo Coelho."

    As críticas se estendem a obras específicas. Janilto Andrade, em "Por que não ler Paulo Coelho," desvenda contradições em "O Alquimista," classificando-o como mero sedativo para a consciência do homem contemporâneo.

    O sucesso internacional de Paulo Coelho, especula-se, deve-se à mente estratégica de sua agente, Mônica Antunes. A teoria da conspiração sugere que tradutores habilidosos transformam uma suposta farsa literária em prestígio internacional.

    Enquanto o mago coleciona vendas, a crítica literária, acadêmica e a própria Academia Brasileira de Letras questionam sua relevância. A visão de Josse Gerard afirma que seu público são "donas de casa," sem desmerecer essas leitoras. E, mesmo superando recordes de vendas, Paulo Coelho permanece à margem dos prestigiados prêmios literários.

    Em meio a jabutis e coelhos literários, a controvérsia persiste. O sucesso nas prateleiras não garante a consagração literária. Talvez, ao final, o reconhecimento literário seja um troféu que o Coelho esotérico jamais conquistará. Irrelevante ou não, a literatura continua a ser palco de debates e dilemas, onde jabutis e coelhos, cada qual com seu mérito e demérito, seguem suas corridas literárias.












sábado, 10 de setembro de 2011


Dr. Sócrates e a Democracia Corinthiana





Em plena ditadura militar, um clube brasileiro conseguiu alterar as regras do jogo. Não almejava apenas títulos, mas condições dignas de trabalho baseadas no diálogo e no respeito. Através de decisões coletivas, o grupo reparte igualmente responsabilidades e cumplicidade. Alcançou visibilidade e capacidade de provocar a reflexão em uma sociedade que lutava contra a opressão da ditadura militar. O futebol, taxado de alienante, se fez como um mecanismo de mobilização social e ergueu a bandeira da democracia, ou melhor, uma “Democracia Corinthiana!”.

 
Após uma modesta campanha no Brasileirão de 1981, Vicente Matheus deixa a presidência, assumindo Waldemar Pires. Após a posse de Pires, é nomeado diretor de futebol o sociólogo Adilson Monteiro Alves, que adotou como política de gestão a participação ativa dos jogadores. Nasce a Democracia Corinthiana, um sistema de autogestão orientada pelos jogadores, comissão técnica e diretoria. Estes decidiam os rumos do departamento de futebol pelo voto direto. Contratações, demissões, escalação, concentração, enfim, tudo era decidido pelos trabalhadores. Do presidente ao roupeiro, todos os votos tinham o mesmo peso nas decisões. Em plena ditadura militar, o time do povo, com a maior torcida do país, começa a discutir política e colocar em debate o porquê de uma ditadura militar.

O Doutor Sócrates entra e lidera o movimento. Faz do futebol uma política e inicia-se a Democracia Corintiana. Segundo José Paulo Florenzano, mestre e doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP, Sócrates foi um dos principais personagens deste fato social.
“No caminho contrário daqueles que pensavam e pensam que o jogador de futebol tem que realizar a sua função dentro de campo, para Sócrates, um dos protagonistas da Democracia Corintiana, era necessário que o atleta pensasse.” (Florenzano, 2009)

            Outro fator relevante foi a desmistificação da dependência direta dos patrocínios de camisa. Durante a democracia, as camisas carregavam dizeres políticos como diretas já” ou “eu quero votar para presidente”, trazendo para o futebol a consciência política que já se desenvolvia há anos em outros setores da sociedade, ligados a diversos movimentos sociais durante a ditadura militar brasileira.
O resultado não poderia ser melhor, além de ajudar a restabelecer a democracia no país, o Corinthians conquistou dois campeonatos paulistas (1982 e 1983) e chegou as fases finais da Taça de Ouro.Inúmeras pessoas públicas acabaram aderindo à causa do time, que extrapolou o “campo de futebol” e começou a fazer campanhas pelas Diretas Já. Com influência direta de Washington Olivetto, fizeram com que o público do futebol também debatesse sobre o movimento de abertura política. Osmar Santos, Juca Kfouri e Rita Lee vestiram a camisa da Democracia Corinthiana. Sócrates, Casagrande e Wladimir subiam em palanques e discursavam sobre as diretas ao lado de políticos e figuras públicas.

Um movimento único na história do futebol mundial, nunca depois repetido e com grande influência para o movimento das Diretas Já. A partir desse movimento, o Corinthians foi o primeiro time a usar a camisa com dizeres publicitários.
Por sugestão do Washington Olivetto, jogos antes da eleição de 15 de novembro de 1982, o time foi a campo com duas camisas: uma com a inscrição "Dia 15 vote" e a outra com "Democracia Corinthiana".
A ideia era fazer uma campanha incentivando a população a votar em candidatos de oposição à ditadura. E isso foi passado ao povo como a faixa escrita: “anistia ampla, geral e irrestrita", que foi levantada no meio dos Gaviões, onde a polícia tinha difícil acesso e nunca saberia quem eram os responsáveis por aquilo.

Este fato social aborda, portanto, a articulação de dois eixos, a saber: de um lado, o da análise interna do campo de forças do futebol brasileiro, resgatando as resistências, as rebeldias e as práticas que tornaram possível operar uma inversão nas relações de poder; e, de outro lado, o de uma história aberta do futebol, capaz de apontar as conexões entre a experiência democrática no Corinthians e os movimentos sociais, políticos e culturais em curso no quadro da redemocratização da sociedade.
A Democracia Corinthiana representa a brecha antropológica no universo do futebol brasileiro, criando novas significações imaginárias sociais, descortinando outras possibilidades do ser atleta, ampliando os sentidos do jogar bola e tecendo as jogadas indefinidas do trabalho de reinventar a liberdade.
Livros sugeridos


ALBRECHT, Jeferson. Fiel torcida Corinthiana - Um Fenômeno Sociológico. 

Ponto da Cultura Editora Ltda. ISBN: 978-85-8097-009-8
FLORENZANO, José Paulo. A Democracia Corinthiana: Práticas de Liberdade no Futebol Brasileiro .  Educ.2009.
SOCRATES & GOZZI. Bíblia do Corintiano: Livro e Documentos Históricos de um Centenário de Conquistas-Democracia Corintiana – A Utopia em Jogo. Boitempo

sábado, 23 de julho de 2011

MAÇONARIA E O PROTESTANTISMO NO BRASIL


A ausência de conhecimento a determinados fatos fazem com que muitas pessoas se deixem influenciar por opiniões completamente pervertidas acerca desses fatos. É o que acontece em relação à Maçonaria. Algumas instituições religiosas, em especial evangélicas, não aprovam os princípios maçônicos e alegam que a organização tem origem satânica, e que os maçons têm pacto com o tinhoso. Infelizmente muitos evangélicos fazem coro com isso, promovendo a intolerância e a desinformação.
 O presente artigo visa mostrar que a Maçonaria, com a proposta de unir os homens e as religiões, contribuiu para o avanço e fixação de um ramo do Cristianismo em solo brasileiro: o protestantismo. É necessário salientar que quando faço uso da palavra “protestantismo” não faço referência as inescrupulosas igrejas neo-pentecostais “caça-níqueis” que após a década de setenta se instalaram no Brasil e envergonham o evangelismo neste país.
 A Maçonaria Moderna muito contribuiu para que o Movimento Protestante se implantasse em solos tupiniquins. A madre igreja Católica entrou em guerra contra a maçonaria no século XVIII, misteriosamente na mesma data do início da vinda de missionários protestantes ao Brasil. Supõe-se que os maçons pretendiam sabotar o domínio católico através disso. Não fosse a maçonaria, o movimento protestante no Brasil não teria sequer começado.
No Brasil, o início da maçonaria se deu em meados de 1800, pouco antes da vinda do protestantismo para estas terras. O Primeiro Pastor Batista Brasileiro foi um maçom, que além de ter sido batizado por um Pastor que também era Maçom, foi ainda consagrado ao “Ministério da Palavra" no salão da Loja Maçônica. 

A profissão de fé e a consagração tiveram lugar no salão da loja Maçônica , na Vila de Santa Bárbara, com a presença de norte-americanos e brasileiros, tal como diz o documento. (OLIVEIRA, 1985, p. 125).


Outro ilustre protestante maçom foi o pastor e missionário Salomão Luiz Ginsburg, membro de diversos templos maçônicos na Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Espírito Santo, fundador do Templo Maçônico “Auxílio à Virtude”.  Em seu trabalho missionário, foi responsável pela criação de várias igrejas batistas na região, com especial destaque para as de São Fidelis e Macaé. Foi responsável também pelos 581 hinos reunidos no “Cantor Cristão”, hinário adotado pelas igrejas batistas, no qual 87 hinos são de sua autoria ou foram por ele traduzidos ou adaptados de outras línguas. Em 1921 publicou o seu livro autobiografico.Encontra-se em algumas partes de seu relato a descrição de sua condição de Maçom.

Como um raio de luz, veio-me o pensamento de fazer o sinal de perigo da Maçonaria. Seria possível que naquele lugar houvesse um irmão maçom? Tentei o sinal, e pareceu-me como se alguém estivesse esperando o isso, pois, em menos de cinco minutos, cerca de meia dúzia de homens se aproximou de mim e me rodeou e me disse que me veio buscar para a sua casa. Logo fiquei livre e seguramente instalado em uma das melhores residências da cidade, protegido por soldados, com suas carabinas de prontidão. Agradeci ao meu Pai Celeste pelo livramento que me deu tão maravilhosamente daquela multidão enfurecida. (GINSBURG, 1970, p. 82).


Em outras circunstâncias também encontramos laços estreitos entre Maçonaria e Presbiterianismo no Brasil, apresentando algumas das várias formas em que, amigavelmente, a Maçonaria contribuiu para a inclusão desta tradição reformada no Brasil do século XIX. 
A histórica relação da Maçonaria e da Igreja Presbiteriana do Brasil se consolidou em uma relação de amizade e fraternidade cristã, de respeito à liberdade de pensamento e de consciência, de civilidade no trato da profissão de fé cristã, herdeira da Reforma Protestante, do século XVI.
 O livro "O Evangelho e a Maçonaria – Uma Parceria que deu certo no Brasil", do irmão Athos Vieira de Andrade – Presbítero da Primeira Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte e Grão Mestre do Grande Oriente de Minas Gerais reforça esta relação com as seguintes palavras:


“Portanto, aproveito esta oportunidade para agradecer a Deus, neste mês dos 146 Anos da Igreja Presbiteriana do Brasil, a consideração da Maçonaria, pela implantação da nossa Igreja em nosso país, no tempo do Império marcado pela turbulência política, na implantação da República e da intolerância à liberdade de pensamento e religiosa.”


Hoje se fala muito em “ecumenismo”, como forma de resposta aos conflitos religiosos; contudo, a maçonaria foi a primeira entidade em que a fé individual foi utilizada como instrumento de integração, e não como combustível para sangrentas guerras, provando que todos somos filhos do mesmo Criador, ou seja: irmãos, e podemos viver realmente como tais, independente da religião a que pertençamos.

REFERÊNCIAS
GINSBURG, S. Um judeu errante no Brasil. Edição da Casa Publicadora Batista, 1970
OLIVEIRA, B. Centelha em Restolho Seco: Uma contribuição para a história dos primórdios. Rio de Janeiro: Edição da Autora, 1985


sexta-feira, 15 de julho de 2011

O que NÃO É Filosofia

Após anos frequentando a faculdade de filosofia, lembro de ter ouvido poucas definições sobre o termo “filosofia” nestas suntuosas aulas, visto que os doutores tomavam os devidos cuidados para não cometerem imprecisão. Porém são constantes as definições proferidas pelos rumores do senso comum em nosso cotidiano. O interessante é que nenhuma delas parece cumprir com a tarefa a qual se propõem.
Quantas sandices temos que aturar em colóquios de mesas de botequins com as clássicas “discussões filosóficas” que sempre terminam em conformidade e muitas cervejas; em conversas com sábios anciões que ao descobrirem que o indivíduo com quem estão discutindo cursa Filosofia proferem pérolas como: “Pois é meu filho, também tenho minhas filosofias”. Por isso vamos tentar esgotar aqui os equívocos sobre o que seja Filosofia, e o que só é possível por meio de sustentações teóricas.
Aqui, portanto, começamos a falar sobre o que não é filosofia. O que “não é” pode indicar uma pista para “o que é”. Ao analisarmos um trecho do livro “O que é a Filosofia?” de Gilles Deleuze e Felix Guatarri, poderemos pelo menos ter a idéia do que não é filosofia:
“Ela não é contemplação, nem reflexão, nem comunicação, mesmo se ela pôde acreditar ser ora uma, ora outra coisa, em razão da capacidade que toda disciplina tem de engendrar suas próprias ilusões, e de se esconder atrás de uma névoa que ela emite especialmente. Ela não é contemplação, pois as contemplações são as coisas elas mesmas enquanto vistas na criação de seus próprios conceitos. Ela não é reflexão, porque ninguém precisa de filosofia para refletir sobre o que quer que seja: acredita-se dar muito à filosofia fazendo dela a arte da reflexão, mas retira-se tudo dela, pois os matemáticos como tais não esperam jamais os filósofos para refletir sobre a matemática, nem os artistas sobre a pintura ou a música; dizer que eles se tornam então filósofos é uma brincadeira de mau gosto, já que sua reflexão pertence a sua criação respectiva. E a filosofia não encontra nenhum refúgio último na comunicação, que não trabalha em potência a não ser de opiniões, para criar o “consenso” e não o conceito.”
No recinto escolar é comum o professor iniciar o estudo de uma nova disciplina dando-lhe o conceito. Neste artigo não vamos proceder como se faz no estudo destas disciplinas, pois a filosofia é dessemelhante. Primeiro porque é implexo definir filosofia, afinal o conceito será sempre aproximativo. Além disso, por ser abreviada a definição, sempre é deixado algo de fora, ficando sempre alguma explicação a ser dada; toda definição é uma tentativa de "por um fim" na discussão, mas a filosofia está sempre iniciando uma nova discussão, portanto não lhe cabe uma definição.
Em suma, filosofia não é para a auto-realização e tão pouco para a auto-ajuda. Filosofia é o questionamento do mundo, das coisas como elas são e como poderiam ser se não fossem do jeito que são.  Segundo Osvaldo Giacoia Junior, professor de Filosofia da Unicamp, com pós-doutorado na Alemanha, a vulgarização excessiva da Filosofia dilui seus conteúdos, dissolve a sua especificidade e a transforma em uma espécie de mercadoria de auto-ajuda.
A literatura de auto-ajuda se apropria da Filosofia, deixando-a barata e comestível, ou melhor, consumível. Essa “literatura barata” fala o que as pessoas querem ouvir para aprenderem a gostar de si mesmas e “se darem bem na vida”, como os escritores desta literatura, que angariam muito dinheiro. Filosofia é a investigação racional e crítica dos princípios universais, pautada na ânsia de conhecimento. Esta área de estudos envolve a investigação, a argumentação, a análise, discussão, formação e reflexão das ideias sobre o mundo, o homem e o ser. Originou-se da inquietude procriada pela curiosidade em compreender e questionar os valores e as interpretações aceitas sobre a realidade dadas pelo senso comum e pela tradição. Contrário a estes aspectos, a literatura de Auto- ajuda se vale de clichês e do senso comum. Este tipo de texto é para pessoas que querem calar seu espírito e suas dúvidas interiores; filosofia é para quem quer dar vazão a eles.
O fato é que muito se fala sobre filosofia, entretanto nem tudo corresponde à verdade. O que se diz é uma visão, uma versão, um ponto de vista. Em primeiro lugar é importante dizer que nem tudo aquilo que popularmente é afirmado sobre filosofia corresponde à verdade. Vejamos, portanto, algumas falsas concepções.
FILOSOFIA DE VIDA
Essa expressão é utilizada para designar um determinado “jeito de viver”, um estilo de vida, uma concepção de mundo e de vida. Não é filosofia.
PENSAMENTOS, FRASES E PROVÉRBIOS 
Toda aquela parafernália de frases, pensamentos, provérbios: tudo isso é usado para produzir um efeito especial, mas não se constitui filosofia. Mesmo que a frase tenha sido retirada de um texto filosófico ou tenha sido escrita por um filósofo. Até mesmo um livro de filosofia não é considerado filosofia. A partir da frase, do provérbio ou do pensamento podemos fazer uma discussão ou análise filosófica. Mas isso não faz da frase ou do pensamento, filosofia. A análise pode ser filosófica, mas o provérbio continua sendo apenas um provérbio, bonito, porém apenas um provérbio. Não importa a interpretação que se faça da frase, do pensamento ou do provérbio, eles continuam não sendo filosofia.
OPINIÕES ESTEREOTIPADAS
São equivocadas as opiniões estereotipadas que apresentam visões distorcidas ou irônicas sobre a filosofia. Exemplo: A filosofia é "difícil ou complicada"; que é "coisa de doido"; que é "coisa de intelectual". Afirmar que a Filosofia é difícil ou complicada é instalar-se no comodismo, negando a capacidade humana de progredir. Não nos esqueçamos que foram justamente as dificuldades e complexidades que fizeram o homem sair das cavernas para conquistar a tecnologia. O progresso humano não é feito por facilidades, mas por dificuldades. Assim sendo, esse tipo de afirmação não depõe contra, mas a favor da filosofia. Ela está ai para ajudar os seres humanos a serem melhores e melhorarem suas condições de vida.
Filosofia é "coisa de doido". Essa é uma afirmação contraditória por princípio. Dizemos que a "loucura" é incoerente. Como a filosofia busca a coerência, dizer que ela é coisa de maluco é uma contradição. Como determinar o que é loucura e o que é sanidade? A loucura de um pode ser a sanidade de outro. Como saber se o ato, considerado louco, na realidade não é sano e coerente? Quem são os loucos: aqueles a quem o senso comum assim considera ou as pessoas que convivem conosco no dia-a-dia? Ou você não considera loucura, num clima quente como o nosso, vestir um paletó, colocar uma gravata, entrar numa sala, fechar a porta, começar a transpirar de calor e ligar ar condicionado? Não é loucura o que fazem algumas pessoas que trabalham "o tempo todo" e não se dão o direito de lazer, ou de usufruir dos resultados do trabalho? Filosofia é coisa de intelectual. – Esta afirmação nega a capacidade reflexiva que está presente em todas as pessoas. O que é "ser intelectual?" No senso comum, não está claro, mas tende-se a chamar de intelectual a pessoa que é considerada inteligente, que estudou bastante, que é considerada sábia. Mas chamar essas pessoas de intelectuais e dizer que a filosofia lhes é "própria" é considerar que as outras pessoas não têm capacidade de reflexão, de estudo, de aprender... Todos os seres humanos são capazes de pensar, de raciocinar, de crescer intelectualmente.
O termo Φιλοσοφία vem do grego e significa literalmente “amor à sabedoria”,  e entre outras definições pode ser considerado o estudo de problemas fundamentais relacionados à existência, ao conhecimento, à verdade, aos valores morais e estéticos, à mente e à linguagem.

ALGUMAS DEFINIÇÕES
“Filosofia significa o estudo da sabedoria.” René Descartes
“Filosofia é o conhecimento causal e a utilização desse em benefício do homem.” Thomas Hobbes
“Filosofia é a ciência da relação do conhecimento finalidade essencial da razão humana, que é a felicidade universal; portanto, a Filosofia relaciona tudo com a sabedoria, mas através da ciência.” Immanuel Kant
“Filosofia é a vida voluntária no meio do gelo e nas altas montanhas – a procura de tudo o que é estranho e problemático na existência, de tudo o que até agora foi banido pela moral." Friedrich Nietzsche
“Filosofia é a crítica dos valores, das crenças, das instituições, dos costumes, das políticas, no que se refere seu alcance sobre os bens.” John Dewey