sábado, 23 de julho de 2011

MAÇONARIA E O PROTESTANTISMO NO BRASIL


A ausência de conhecimento a determinados fatos fazem com que muitas pessoas se deixem influenciar por opiniões completamente pervertidas acerca desses fatos. É o que acontece em relação à Maçonaria. Algumas instituições religiosas, em especial evangélicas, não aprovam os princípios maçônicos e alegam que a organização tem origem satânica, e que os maçons têm pacto com o tinhoso. Infelizmente muitos evangélicos fazem coro com isso, promovendo a intolerância e a desinformação.
 O presente artigo visa mostrar que a Maçonaria, com a proposta de unir os homens e as religiões, contribuiu para o avanço e fixação de um ramo do Cristianismo em solo brasileiro: o protestantismo. É necessário salientar que quando faço uso da palavra “protestantismo” não faço referência as inescrupulosas igrejas neo-pentecostais “caça-níqueis” que após a década de setenta se instalaram no Brasil e envergonham o evangelismo neste país.
 A Maçonaria Moderna muito contribuiu para que o Movimento Protestante se implantasse em solos tupiniquins. A madre igreja Católica entrou em guerra contra a maçonaria no século XVIII, misteriosamente na mesma data do início da vinda de missionários protestantes ao Brasil. Supõe-se que os maçons pretendiam sabotar o domínio católico através disso. Não fosse a maçonaria, o movimento protestante no Brasil não teria sequer começado.
No Brasil, o início da maçonaria se deu em meados de 1800, pouco antes da vinda do protestantismo para estas terras. O Primeiro Pastor Batista Brasileiro foi um maçom, que além de ter sido batizado por um Pastor que também era Maçom, foi ainda consagrado ao “Ministério da Palavra" no salão da Loja Maçônica. 

A profissão de fé e a consagração tiveram lugar no salão da loja Maçônica , na Vila de Santa Bárbara, com a presença de norte-americanos e brasileiros, tal como diz o documento. (OLIVEIRA, 1985, p. 125).


Outro ilustre protestante maçom foi o pastor e missionário Salomão Luiz Ginsburg, membro de diversos templos maçônicos na Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Espírito Santo, fundador do Templo Maçônico “Auxílio à Virtude”.  Em seu trabalho missionário, foi responsável pela criação de várias igrejas batistas na região, com especial destaque para as de São Fidelis e Macaé. Foi responsável também pelos 581 hinos reunidos no “Cantor Cristão”, hinário adotado pelas igrejas batistas, no qual 87 hinos são de sua autoria ou foram por ele traduzidos ou adaptados de outras línguas. Em 1921 publicou o seu livro autobiografico.Encontra-se em algumas partes de seu relato a descrição de sua condição de Maçom.

Como um raio de luz, veio-me o pensamento de fazer o sinal de perigo da Maçonaria. Seria possível que naquele lugar houvesse um irmão maçom? Tentei o sinal, e pareceu-me como se alguém estivesse esperando o isso, pois, em menos de cinco minutos, cerca de meia dúzia de homens se aproximou de mim e me rodeou e me disse que me veio buscar para a sua casa. Logo fiquei livre e seguramente instalado em uma das melhores residências da cidade, protegido por soldados, com suas carabinas de prontidão. Agradeci ao meu Pai Celeste pelo livramento que me deu tão maravilhosamente daquela multidão enfurecida. (GINSBURG, 1970, p. 82).


Em outras circunstâncias também encontramos laços estreitos entre Maçonaria e Presbiterianismo no Brasil, apresentando algumas das várias formas em que, amigavelmente, a Maçonaria contribuiu para a inclusão desta tradição reformada no Brasil do século XIX. 
A histórica relação da Maçonaria e da Igreja Presbiteriana do Brasil se consolidou em uma relação de amizade e fraternidade cristã, de respeito à liberdade de pensamento e de consciência, de civilidade no trato da profissão de fé cristã, herdeira da Reforma Protestante, do século XVI.
 O livro "O Evangelho e a Maçonaria – Uma Parceria que deu certo no Brasil", do irmão Athos Vieira de Andrade – Presbítero da Primeira Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte e Grão Mestre do Grande Oriente de Minas Gerais reforça esta relação com as seguintes palavras:


“Portanto, aproveito esta oportunidade para agradecer a Deus, neste mês dos 146 Anos da Igreja Presbiteriana do Brasil, a consideração da Maçonaria, pela implantação da nossa Igreja em nosso país, no tempo do Império marcado pela turbulência política, na implantação da República e da intolerância à liberdade de pensamento e religiosa.”


Hoje se fala muito em “ecumenismo”, como forma de resposta aos conflitos religiosos; contudo, a maçonaria foi a primeira entidade em que a fé individual foi utilizada como instrumento de integração, e não como combustível para sangrentas guerras, provando que todos somos filhos do mesmo Criador, ou seja: irmãos, e podemos viver realmente como tais, independente da religião a que pertençamos.

REFERÊNCIAS
GINSBURG, S. Um judeu errante no Brasil. Edição da Casa Publicadora Batista, 1970
OLIVEIRA, B. Centelha em Restolho Seco: Uma contribuição para a história dos primórdios. Rio de Janeiro: Edição da Autora, 1985


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