quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Esoterismo quântico



Folha de São Paulo, domingo, 12 de julho de 2009

Novo livro do cientista Victor Stenger ataca os gurus que mistificam conceitos
da física para dar verniz de ciência a suas crenças

PABLO NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Tanto os fãs ardorosos dos documentários "Quem somos nós" e "O Segredo" quanto os espectadores que consideraram esses filmes um desfile de bobagens requentadas do movimento Nova Era podem tirar algum proveito do novo livro do físico americano Victor Stenger. "Quantum Gods" (Deuses Quânticos) se destina
justamente a atacar a crença de que as modernas teorias cientificas são
perfeitamente compatíveis com toda forma de prática esotérica.
O livro é uma resposta direta a ambos documentários, nos quais cientistas,
médicos, religiosos e gurus de auto-ajuda recorrem a conceitos da mecânico-quântica
quântica -ramo da física que explica o comportamento da matéria a níveis muito
pequenos- e de outras ciências para abordar temas místicos como poder do
pensamento, carma, vida após a morte etc.
Desde o fim dos anos 1980, Stenger tem militado na corrente neoateísta que tem
no biólogo Richard Dawkins e no filósofo Daniel Dennett suas faces mais
conhecidas. Seu novo livro começa fazendo um breve e irônico levantamento das
ideias defendidas pela nova onda de gurus quânticos.
Stenger dá destaque a Amit Goswami, físico indiano bastante popular no Brasil,
tendo sido entrevistado duas vezes no programa Roda Viva, da TV Cultura. Mas até
o Dalai Lama é citado, devido a seu livro "O Universo num Só Átomo". O líder
tibetano, porém, é abordado de forma respeitosa.
Já o fundador da meditação transcendental, o físico e guru indiano Maharishi Yogi (1917-2008) recebe chumbo pesado. David Bohm e Fritjof Capra, cientistas que não aparecem nos filmes, mas que são pioneiros do encontro da Mecânica Quântica com
a Nova Era, também não escapam ilesos.
Divulgador experiente, Stenger inclui no livro seções que formam uma curta mas substanciosa história da ciência. Isso permite a um leigo tomar pé do debate
sobre problemas teóricos complexos, mas deixa passar a chance de desmontar
detalhadamente afirmações supostamente científicas com as quais o espectador se
depara em "Quem somos nós".
Em vez de tentar negar, por exemplo, a afirmação de Goswami de que a consciência é o fundamento do Universo, ele prefere repassar a história da criação da física de partículas. Em vez de contestar os experimentos de Masaru Emoto, que afirma
que as moléculas de água podem ser alteradas pela força do pensamento, ele
descreve os fracassos obtidos em testes de parapsicologia.
É como se Stenger acreditasse que uma apresentação criteriosa de conceitos
complicados, como o emaranhamento quântico, será o suficiente para que os
leitores possam, por si só, perceber os pontos em que Capra, Goswami e companhia
estão "forçando a barra".

Em benefício da dúvida
Só que o mais provável é que o leitor leigo se sinta incapaz de chegar a uma
conclusão por conta própria. Neste caso, provavelmente a leitura apenas terá
colaborado para aumentar suas dúvidas. Porém, isso, por si só, já pode ser algo
positivo. Afinal, uma das maiores objeções que se pode fazer a "Quem somos nós"
é que o filme não avisa aos espectadores que as posições ali apresentadas são,
no mínimo dos mínimos, controversas, e que não são endossadas pela imensa
maioria da comunidade cientifica.

Stenger oferece aos leitores a visão acadêmica destes mesmos temas, numa
linguagem acessível. Saber que existe uma outra visão (na verdade várias) da
mecânica quântica pode ser uma grande novidade para muitos dos fãs de "Quem
somos nós", que fizeram dele o quinto documentário mais lucrativo da história
dos EUA.
O livro analisa também as ideias de outros grupos que, volta e meia, recorrem à
mecânica quântica para sustentar suas ideias. Ilya Prigogine, prêmio Nobel de
química de 1977 e herói da corrente acadêmica conhecida como
transdiciplinaridade, é diretamente contestado. Prigogine afirma que os
processos termodinâmicos não podem ser abordados através do tradicional
reducionismo metodológico tão caro à ciência moderna pois, neste caso, esses
processos não seriam reversíveis no tempo.
Stengers afirma que, por princípio, todos os processos físicos são reversíveis
temporalmente, e que Prigogine "está completamente errado, mesmo tendo ganho um
prêmio Nobel". Também sobram críticas para a parapsicologia e para os teólogos
que investigam o mundo microscópico em busca de sinais da ação do Deus cristão,
ou de algo próximo a ele.

Sobrecarga

Ao mirar em tantos objetivos diferentes, o autor sofre do ônus de ter poucas
páginas para devassar temas muito variados e complexos. Sem o espaço necessário
para uma exposição mais adequada, sua argumentação soa, em vários momentos,
concisa demais. Mas há um motivo para isso: em livros anteriores ele já investiu
diretamente contra criacionistas, adeptos do Design Inteligente, da
parapsicologia etc. Aqui, em certos momentos onde seria necessário um maior
aprofundamento, ele se limita a se referir a sua própria obra.
No final do livro, Stenger argumenta diretamente contra a existência de qualquer
tipo de divindade. Sua visão do fenômeno religioso lembra um pouco a de Dawkins,
restringindo-se a análise de certos estereótipos. Nada disso, porém, chega a
comprometer a consistência do livro. Stenger tem o conhecimento científico e a
expertise literária necessários para apresentar um bom contraponto à febre de
física Nova Era que continua circulando pelo planeta, Brasil inclusive.

Pseudociência


Pseudociência

O conhecimento não científico é considerado, em geral, como conhecimento pseudocientífico. Apesar disso, não é clara a distinção entre ciência e pseudociência, pois vários poderiam ser os critérios de cientificidade a serem adotados entre as diversas áreas de conhecimento. No entanto, aqui a questão problemática deste texto não é estabelecer os critérios únicos, definitivos e abrangentes que permitiriam a demarcação entre o que é ciência e “não ciência”, e sim, salientar a importância da compreensão da atitude crítica das ciências, reforçadas pelo método científico, em  especial das ciências naturais, em confronto com as pseudociências.
Desta forma, a concepção aqui utilizada de pseudociência é aquela que mais se aproxima da de Bunge (1989, p.68) “uma pseudociência (ou pseudotecnologia) é uma disciplina que se faz passar por ciência (ou por tecnologia) sem sê-lo”. Ou seja, as pseudociências, seriam os conhecimentos que não admitem as críticas da ciência, ou que não reconhecem a ciência e seu método como a única forma de se obter conhecimento seguro e confiável, mas que no entanto, utilizam-se de teorias e/ou de técnicas científicas, ou supostamente científicas, para tentar validar suas conclusões ou promover uma falsa sensação de rigor científico. Entre outras disciplinas e práticas pseudocientíficas é possível citar: a astrologia, a quiromancia, o tarot, a numerologia, as medicinas alternativas (homeopatia, acupuntura, terapia do toque, cromoterapia, aromaterapia, etc.), a parapsicologia, a ufologia, a grafologia, Feng Shui, cristais, fotografia Kirlian, etc.






Segundo Armentia (2002, p.1):
... nós cidadãos chegamos, em geral, a desfrutar dos dons da ciência mas
sem chegar a compreendê-los nem a analisá-los. [...] Quando por uma razão
ou outra se furta ou evita o debate, a livre crítica que está no fundo do
método científico, fica a liturgia. E as pseudociências aproveitam este abismo
entre a ciência e a sociedade para aparecer como ciências quando realmente
não o são.


Segundo Paulo Kurtz (apud ARMENTIA, 2002, p.2) as pseudociências são
matérias que:
a) não utilizam métodos experimentais rigorosos em suas investigações;
b) carecem de uma armação conceitual contrastável;
c) Afirmam ter alcançado resultados positivos, embora suas provas sejam
altamente questionáveis, e suas generalizações não tenham sido
corroboradas por investigadores imparciais

Outras características podem ser associadas a algumas pseudociências e a quem as pratica, como por exemplo: a recusa de abandonar a teoria face a evidências claras que a refutem; o uso de hipóteses ad hoc para tentar eliminar evidências contrárias; o uso seletivo de dados, utilizando os favoráveis e desconsiderando os desfavoráveis; a despreocupação com a ausência de provas; o uso de mito ou apoio na crença na verdade pela antiguidade, ou seja, de que são teorias verdadeiras por serem teorias antigas, ou milenares.


Segundo Sagan (1996, p.36):
A ciência prospera com seus erros, eliminando-os um a um. [...] As hipóteses
são formuladas de modo a poderem ser refutadas. [...] A pseudociência é
exatamente o oposto. As hipóteses são formuladas de modo a ser tornar
invulneráveis a qualquer experimento que ofereça uma perspectiva de
refutação, para que em princípio não possam ser invalidadas. Os
profissionais são defensivos e cautelosos. Faz-se oposição ao escrutínio
cético. Quando a hipótese não consegue entusiasmar os cientistas, deduz-se
que há conspiração para eliminá-la

Uma das formas de tornar uma hipótese irrefutável é formulá-la de forma que a partir dela somente seja possível chegar a previsões vagas. As previsões de videntes e profecias constituem exemplos desta prática.
É possível constatar que muitas práticas pseudocientíficas sejam razoavelmente inofensivas às pessoas. Por exemplo, um vidente prevê que uma
pessoa irá encontrar sua “alma gêmea” (parceiro ou parceira ideal) num determinado mês, o que pode ser inofensivo à pessoa que acreditou nesta previsão. Se ela não encontrar nenhum parceiro ideal naquele mês, o vidente poderá afirmar que, na verdade, ela o encontrou em algum lugar, mas não percebeu, ou não teve a iniciativa de conversar, ou algum “motivo” muito especial pode ter causado o desencontro. Se ela encontrou alguém e aconteceu de iniciarem um relacionamento, ainda o resultado pode ser provisoriamente considerado inofensivo, o problema para
esta pessoa somente estaria no fato de que ela passaria a acreditar mais em previsões, especialmente daquele vidente. Esta pessoa, no entanto, pode sofrer consequências indesejáveis devido a sua credulidade, se por exemplo, ela realmente acreditar que encontrou sua “alma gêmea”, e a partir daí forçar um relacionamento, abandonar projetos pessoais, ou levar uma vida de frustração junto a alguém que ela acreditou ser a pessoa certa, estimulada talvez possivelmente por um charlatão.
Ter um pouco de senso crítico, investir um mínimo em ceticismo, é uma atitude racional, que não significa necessariamente abandonar todas as crenças pessoais, mas trata-se de um pequeno investimento pessoal contra o irracional, contra aquelas alegações pseudocientíficas que podem ser algumas vezes inócuas, mas outras vezes realmente prejudiciais não somente à pessoa lesada, mas à comunidade como um todo. Trata-se, portanto, antes de tudo, de armar-se contra truques, fraudes e charlatanismos.
Mitos Pseudocientíficos

Estes temas abaixo não tem Respaldo Científico. Foram testados e reprovados pelo método científico.



Exemplos de mitos das pseudociências:
Sequestros por alienígenas,
Aromaterapia,
Astrologia,
Auras,
Florais de Bach,
Triangulo das Bermudas,
Pé grande,
Bioritmo,
Comunicação com espíritos,
Quiropratica,
Clarividência,
Fusão a frio,
Criacionismo,
Círculos agrícolas,
Poderes dos cristais,
Radiestesia,
Ectoplasma,
Sessões Espíritas,

Teoria dos miasmas
Horóscopos,
Iridologia,
Levitação,Monstro do lago Ness,
Aparelhos de cura por magnetismo,
Nova Era,
Nostradamus,
Numerologia,
Quiromancia,
Terapia de vidas passadas,
Poderes dos pêndulos,
Máquinas de movimento-perpétuo,
Frenologia,
Poltergeist,
Profecias,
Poderes psíquicos,
Cirurgias espirituais,Poderes das Pirâmides,
Racismo e teorias raciais,
Previsões de fim do mundo,
Percepção Extra-Sensorial,
Extraterrestres,
Fadas,
Discos voadores,
Previsão do futuro,
Fantasmas,
Espiritualismo,
Combustão humana espontânea,
Dobramento de colheres,
Cartas de Tarô,
Telecinese,
Telepatia,
Meditação Transcendental,
Allan Kardec,
Uri Geller,
Óvnis,
etc.

Por:  Carl Sagan